#11 ≣ Achadinhos do Branding
Hoje o AdB está cult. Vamos falar de um Van Gogh que muita gente não conhece: um pintor tão apaixonado pela cultura japonesa, que mais de 100 anos após sua morte, rendeu uma ação com a... Nintendo?
Olá, meninas! E meninos também, tutu pom.
(Sim, isso foi uma referência à icônica little blogs)
Semana passada não teve Achadinhos por muitas razões.
E, é claro, como temos um combinado aqui entre a gente, talvez alguns de vocês estivessem esperando receber e essa expectativa foi frustrada. Nada mais justo, claro, que dar um mínimo de contexto. E eu podia dizer que foi porque eu tive uma lesão no ombro durante a atividade física, num estiramento da articulação depois de um golpe, que inclusive me afastou do trabalho por 2 dias.
Mas não foi (só) isso.
Escrevo esse Achadinhos nesta quinta-feira, 5, às 23:08. Sim, bem em cima da hora. Isso porque minha rotina está completamente abarrotada de compromissos, mas, mais do que isso, quase todos são de trabalho. E, como bom neurótico obsessivo que sou (bjos freudinho), eu estava num ritmo e numa pira maluca de produtividade, dedicando mais de 10h por dia ao trabalho - considerando meu trabalho principal, meus freelas por fora e o Achadinhos - porque sim dá trabalho produzir uma newsletter.
E sabe o que é mais chato? Vendo o Achadinho indo de vento em popa, crescendo e atingindo 10 edições, eu entrei muito na pira do algoritmo, da otimização, das boas práticas e… nossa gente, que buraco negro terrível é isso. Imagina você começar um projeto cheio de entusiasmo e amor porque você adora pensar em construção de Branding e de repente você tá tendo crise de ansiedade porque tem que ter frequência, alta qualidade, links e conteúdos incríveis porque, afinal de contas, é (ou deveria ser) um achadinho.
Eu tive uma enxaqueca maluca por 4 dias seguidos com tanta tarefa - o famoso burnoutinho batendo à porta, né meninas. Bem, o fato é que isso me fez refletir até mesmo sobre a continuação desse projeto. E, ao sentar na frente deste computador por mais algumas horas hoje, às vésperas da meia-noite, eu quero digam ao povo que fico. rs
Não, falando sério agora… Acho que o grande aprendizado que fica é: fazer porque é gostoso, porque é legal, porque me permitiu conhecer um monte de gente incrível nesses últimos tempos e tudo mais. Dane-se algoritmo, dane-se taxa de abertura, dane-se número de inscritos. O Achadinhos é vivo e é mutante. Vocês já devem ter notado que a cada edição tem alguma coisinha diferente, embora, claro, siga uma linha coerente com a proposta da newsletter. Por isso, o meu único compromisso aqui é que você saia dessa leitura com alguma coisa que te tocou e te fez pensar sobre como estão trabalhando Branding por aí.
Você continua nessa comigo? <3
👁️ Brand to Watch: Museu Van Gogh.
Como já teve textão introdutório, vou poupar vocês de uma newsletter quilométrica. Então só vai ter esse tópico nessa edição.
E eu não poderia deixar de falar de dois temas que eu amo e que recentemente fizeram uma collab que deve ter deixado muita gente com cara de “wtf???”:
Pokémon at the Van Gogh Museum
Tá passada?
Há duas semanas, no dia 28 de Setembro, a collab entre as marcas foi lançada lá no Museu Van Gogh, que fica em Amsterdam, nos Países Baixos. Esse é o tipo de ação que, pelo menos em mim, causa aquele estranhamento da colisão entre um produto cultural altamente guiado pelo capital e essa demonstração humana tão livre de valores monetários que é a arte. Isso sempre me faz pensar na complexidade do mundo em que vivemos e desses movimentos um tanto quanto perturbadores (para mim).
Divagações à parte, vamos aos fatos: a ação co-branding vai até 7 de Janeiro de 2024, e aconteceu para celebrar o aniversário de 50 anos do Museu Van Gogh. Além das artes de pokémon com as técnicas do estilo pós-impressionista do pintor holandês, eles também desenvolveram uma série de atividades educacionais, especialmente para crianças - como a dinâmica How To Draw Pikachu, que pode ser realizada no andar do restaurante após assistir ao vídeo e pegar papel e lápis para tentar (me mande fotos se você por acaso passar por lá e tentar).
MAS…
Se até agora você estava achando que isso era apenas uma parceria bonitinha, comercial e meio aleatória, você está tão redondamente, como um Voltorb, enganade.
Branding bom não é ação (exclusivamente ou necessariamente) com temas do hype. É ou pode ser também sobre isso, mas não se limita a isso. E, mais do que isso, não se sustenta porque fica vazio se for apenas o hyper pelo hype.
E, é claro, a Nintendo e a franquia Pokémon são duas marcas de muito sucesso. Aliás, segundo a consultoria SafeBettingSites, Pokémon é a franquia de entretenimento mais rentável do mundo. Sim, na frente de gigantes como Star Wars, Harry Potter e Barbie.
Mas retomando o ponto que eu estava dizendo. Tem um porquê mais sutil (e bem bonito, na minha opinião) sobre essa collab.
Japão de Van Gogh
Antes dos girassóis de Van Gogh florescerem em vasos icônicos com tons de amarelo marcantes, Vincent passeou muito por campos japoneses de cerejeira. Pelo menos em sua imaginação.
Em 2011 eu li esta biografia de Van Gogh e qual não foi a minha surpresa quando descobri que o pintor teve uma fase de fascínio e muito aprendizado sobre a arte japonesa. Aliás, esse foi um movimento muito popular na Europa no fim dos 1800: o japonismo - caracterizado pela influência do Japão nas produções do ocidente. No próprio site do Museu está disponível praticamente toda a coleção de arte ukiyo-e (xilogravuras japonesas) que o artista comprava. Ao todo, o site reúne mais de 670 peças e Van Gogh jamais teve a oportunidade de ir à terra do sol nascente.
Como é explicado no site do Museu, a ação também celebra a admiração do pintor pela cultura japonesa. E é nesse dualismo, do encontro do novo e do velho, do comercial e do artístico, do simples e do profundo, que nasce uma ideia consistente.
A seguir, você pode conferir um pouco mais no detalhe a influência da arte japonesa na obra de Van Gogh. Coloquei apenas uma parte de uma miríade de obras lindas que a maioria das pessoas, acostumadas com girassóis e noites muito estreladas, muitas vezes sequer imaginavam.
Cortesã: depois de Eisen (1887) em óleo sobre tela. A obra foi inspirada na capa da Paris Illustré “Le Japón”, que traz uma cortesã numa xilogravura de Keisai Eisen. Na versão de Van Gogh, há um referência à prostituas por meio de gírias ocultas no quadro.
Ponte na Chuva: depois de Hiroshige (1887) em óleo sobre tela. Esta também é um releitura a partir da obra de outro artista japonês, Utagawa Hiroshige. Aqui, as cores são mais intensas do que na versão original.
Autorretrato: Dedicado à Paul Gaugin (1888) em óleo sobre tela. E é claro que não poderia faltar um autorretrato seu. Note esta versão de olhos mais puxados, onde se apresenta quase como um monge.
Retrato de Père Tanguy (1887) em óleo sobre tela. Uma das obras mais marcantes desta fase do pintor é o retrato do negociante Père Tanguy, o seu fornecedor de xilogravuras japonesas. Na obra, vemos o Monte Fuji acima de sua cabeça e artistas do teatro kabuki. Especialistas também enxergam uma alusão à postura serena de Buda na maneira como Père é representado.
Gostaria, de verdade, que você comentasse no Linkedin ou no Substack como você avalia essa ação co-branding depois desse contexto da relação de Van Gogh com a arte japonesa. Fez mais sentido para você? Ainda soa deslocado? Faria diferente?
Obrigado por ler até aqui!
That’s all, folks. Um beijo & um queijo.
Oie João Ricardo, espero que esteja bem e que as "pirações" de cabeça tenham passado. Afinal, sua newsletter é deliciosa de ler e uma aula quando chega na minha caixa de entrada.
O mais gostoso desse canal é se ver livre dos algoritmos que tanto nos aprisionam nas outras redes.
Continua com leveza, sua news está muito legal!